Antes de explicar como El Niño e La Niña afetam o surf, temos que entender o que são cada um desses fenômenos.
O que é o El Niño?
O El Niño é um fenômeno natural que causa o aquecimento anormal das águas do oceano pacífico na região equatorial, ou seja, na região mais próxima da linha do equador e um enfraquecimento dos ventos alísios. (ventos alísios são os ventos que sopram tanto dos trópicos do sul quanto do norte em direção a linha do Equador, sempre de Leste para Oeste).

Devido a esse aquecimento das águas do oceano pacífico, ocorre uma alteração nos padrões de circulação atmosférica o que acaba alterando a distribuição da umidade e por consequência a temperatura em todo o nosso planeta.
Na prática os efeitos mais perceptíveis são tempo seco e quente por mais tempo na América Central, estendendo assim a sua estação seca assim como também no sudeste da Ásia.
Já na América do Sul, a costa banhada pelo oceano pacífico se torna mais quente e chuvosa.
Sua intensidade também pode variar. Em seu ano mais intenso, as águas do pacífico subiram 4°C acima da média para o mesmo período.

De quanto em quanto tempo ocorre o El Niño?
O El Niño acontece em períodos irregulares que variam entre 5 e 7 anos e pode durar até 1 ano e meio.
O que é a La Niña?
Ao contrário do El Niño que que diminui os ventos alísios (de leste para oeste) e mantém a água da superfície aquecida, o La Niña fortalece os ventos alísios , empurrando a água quente da superfície do mar em direção ao oeste do pacífico, formando um bolsão de água quente. Logo, quando o La Niña para de agir, toda a água quente represada nesse bolsão retorna para a costa oeste da América do Sul.
Recentemente algumas de nossas surf trips para Chicama que esperavam encontrar água gelada, foram premiados com a chance de surfar Chicama de bermuda e camiseta, devido a toda essa massa de água quente que estava represada no meio do oceano pacífico e que acabou sendo dispersada devido ao fim do La Niña no começo de 2023.

Afinal, estamos vivenciando o El Niño, La Niña ou outra coisa?
Devido a magnitude desses fenômenos naturais e toda a sua complexidade, não é fácil determinar quando acaba um e começa outro. No entanto, já sabemos que entre o fim de um e começo do outro ocorre um período de neutralidade, onde eventos extremos e pontuais ocorrem, uma espécie de transição entre La Niña e El Niño e vice versa.
Oficialmente saímos do último La Niña em fevereiro de 2023, o qual começou em Setembro de 2020, tendo durado quase 2 anos e meio. No momento estamos atravessando um período de Neutralidade já apontando para um início de El Niño provavelmente entre os meses de junho e agosto e com duração a qual não temos como prever por enquanto.
Como o La Niña afeta o surf?
Com a intensificação dos ventos alísios , mais energia é gerada na superfície do oceano, resultando em ondas maiores, com períodos mais longos e mais consistentes.
Como o El Niño afeta o surf?
Com o enfraquecimento dos ventos alísios e o aumento na temperatura das águas de superfície, a tendência são ondas menores, com menores quantidades de frentes frias formadas distantes da costa.
Então quer dizer que durante o La Niña tem mais surf no oceano pacífico?
Não exatamente.
Talvez a grande diferença seja na qualidade da ondulação, pois durante o La Niña devido às frentes frias ocorrerem mais distantes da costa, ondas com maior período e mais energia se formam por todo o pacífico além de encontrar com o vento terral (offshore), no entanto tais ondulações podem se formar tão distantes da costa que nem mesmo possamos usufruir delas. Portanto apesar do La Niña oferecer ondas mais perfeitas e com mais energia, elas também se tornam menos constantes.
Então quer dizer que durante o El Niño tem menos surf no oceano pacífico?
Não exatamente.
Com o aumento da temperatura da água do oceano pacífico, mais frentes frias se formam, porém mais próximas da costa, o que interfere na formação das ondas, com períodos menores, menos energia e com maior incidência de vento maral.
Portanto, El Niño e La Niña são 2 fenômenos naturais sobre os quais ainda pouco sabemos. As vezes um La Niña pode encerrar e começar novamente, ou pode dar espaço para um El Niño. Temos registro até de um evento onde características de El Niño e de La Niña aconteciam simultaneamente e que ficou conhecido como El Niño Modoki.
Históricamente para o período, quando olhamos 2018 e 2019 (os últimos anos de El Ninño) tivemos altas ondas por todo o pacífico. Poranto, acreditamos que podemos nos animar com o El Niño que vem pela frente.
E como El Niño e La Niña afetam o surf no Brasil?
Apesar de oceanos diferentes, o enfraquecimento dos ventos alísios (El Niño) age da mesma maneira, permitindo o aquecimento das águas costeiras e aumentando a frequência de frentes frias formadas próximas a essas regiões. Efeitos observados principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Já durante o La Niña, o resfriamento das águas do atlântico diminuem a frequência de frentes frias, tornando a região mais dependente de ondulações provenientes de frentes frias polares. Logo, durante o El Niño temos mais ondulações próximas a costa, com menos qualidade e menos energia já durante o La Niña temos menos ondulações porém com melhor período e mais energia.
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